quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Alcatifa

Não acredito que estou sentado nestas escadas,
cobertas de alcatifa azul, suja, sozinha e eu
As minhas mãos não são as mesmas, alguém mudou as minhas mãos enquanto dormia.
Não sei como pegar na caneta e a minha sombra limita-se a segurar na alcatifa.
A casa olha para mim e abre os braços de parede mal pintada por cima de um papel mal colado.
Não conheço estas mãos, vou lava-las com sabonete velho e pasta dos dentes seca
Nunca espreito por esta janela, não sei o que há lá fora.
Só te vejo a ti e um candeeiro.
São bem diferentes, aqui dentro tudo se confunde, nada me distingue desta vassoura se não escrever.

Não acredito que estou sentado nestas escadas,
nunca gostei delas, mas são as únicas que dormem comigo agora.
Apetecia-me sentir o vento das tuas asas de cera na minha cara,
é pelo teu corpo de espuma que estou aqui
é pelos manuscritos das paredes da banheira onde escorres
escorre pelas minhas escadas como se eu não te ouvisse
varre-me como se eu não te sentisse
lava as minhas mãos, és as minhas mãos.

Não acredito que estou sentado nestas escadas.


Ruben A.

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